Furioso e contundente, novo vídeo da banda aborda as desigualdades sociais em nosso país.
Se no trabalho anterior, “Sob o Luar”, Rematte falava sobre inquietações internas e apresentava um som quase etéreo em certos momentos; em “A Cerca”, põe externa toda a sua raiva e indignação, através de um som mais pesado, frenético e dissonante.
Em sintonia com a instrumentação agressiva, a letra aborda as desigualdades sociais cada vez mais gritantes em nosso país, segundo o vocalista Daniel Gadelha: “O texto é uma costura de reflexões e críticas sobre a nossa sociedade, que está metaforicamente (ou não) recortada por 'cercas invisíveis', que não enxergamos, mas que são tão sólidas quanto o ódio de quem as cria e de quem as vivenciam. Cercas sociais, raciais, econômicas, religiosas, e todas aquelas que subtraem da humanidade a capacidade de perceber a existência do outro, do coletivo, da diversidade, e o prejuízo impagável que isso imprime em uma visão de mundo mais justa”.
Devido à pandemia, a banda acabou tendo que buscar uma alternativa para viabilizar a produção do single. A solução foi a gravação remota, onde cada integrante gravou separadamente, em um local diferente, sob a orientação de Matheus Brasil (Matt B), produtor parceiro do Rematte desde os trabalhos anteriores. O produtor Zeca Leme, do BTG Studio (SP), fez uma participação especial, fazendo o trabalho de timbragem das guitarras.
Sobre esse processo totalmente novo para os músicos, o baixista Jonas Monte comenta: “Gravar a distância foi um mix de medo e euforia. Medo pela pandemia, e euforia por voltar a produzir e querer que o trabalho ficasse logo pronto. A cada elemento que era gravado, uma comemoração era feita! Apesar de toda a preocupação de como iria ficar, já que cada um estava gravando de um jeito diferente, a certeza de que ficaria bom era sempre presente, pois confiamos demais no Matheus”.
Para o clipe, a banda teve uma ideia de recorte mais pontual: mostrar o impacto da desigualdade territorial em Fortaleza, cidade onde vivem, e de como obras do governo e de empreendimentos imobiliários separam uma parcela mais pobre da população de forma cruel e muitas vezes violenta. Para isso, a banda contou com a parceria do coletivo Nigéria Filmes, que cedeu trechos de seu acervo, entre eles a série documental “Cartas Urbanas”, que aborda justamente a reflexão territorial urbana. “Gostaríamos de falar sobre nossa cidade e inserir imagens fortes, que dialogassem com a densidade do que a letra da música diz. Não demorou em pensarmos na Nigéria, que já é conhecida por suas obras de impacto e apelo social. Trocamos uma ideia com os caras, e eles toparam! O ‘Cartas’ caiu como uma luva para o clipe, pois mostra exatamente o que essas ‘cercas’ de desigualdades sociais podem causar aos mais desfavorecidos”, conta o baterista Álvaro Abreu. A captação das imagens da banda, direção e edição ficaram a cargo de Vicente Ferreira, da Vomor Produções.
A banda:
O Rematte é uma banda de rock de Fortaleza fundada em 2017 e atualmente formada por Daniel Gadelha (vocal), Álvaro Abreu (bateria), Jonas Monte (baixo) e Thiago Barbosa (guitarra). Com influências que vão desde bandas alternativas como Deftones, Incubus e Audioslave, até a poesia engajada e contestadora de Chico Science, Marcelo Yuka e Chico Buarque, o grupo apresenta um som vigoroso, que intercala climas atmosféricos com distorções agressivas. Em seu discurso, temas como reflexões individuais, engajamento social e a energia das relações em um contexto urbano e tecnológico são abordados de maneira muito particular, graças às composições do vocalista Daniel Gadelha. Com um EP e dois singles na bagagem, o Rematte segue expandindo o alcance da sua música de forma digital, enquanto a pandemia ainda não dá trégua..
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