Em seu segundo "duplo", artista pula da melancolia para os sabores do amor romântico.
Malcolm McLaren era conhecido por diversas razões, empresário, artista visual, performer, músico, estilista, dono de boutique e acima de tudo por ser o promotor e empresário dos Sex Pistols.
Para mim, porém, minha maior lembrança dele é Duck Rock, álbum de 1983 que combinava, de forma inusitada, estilos musicais da África do Sul, América Central e do Sul, Caribe com hip hop. Era um disco estranho, longe do padrão de "música comercial" ou até mesmo da "harmonia ocidental". Eu tinha uma relação de amor e ódio com o disco, conscientemente eu achava que não gostava das músicas, mas era impulsionado e escutar, escutar e escutar o mesmo. Mesmo "não gostando", foi um dos LPs que comprei (e naquela época era uma competição difícil, como adolescente tinha pouquíssimo dinheiro e desejo de ter centenas de álbuns). Era um disco que escutava de headphones, meio com vergonha, afinal de contas não podia manchar minha imagem de roqueiro alternativo, aquilo não combinava com Bauhaus, Joy Division e Sisters of Mercy!
Mas o fato é que, por mais estranho que fosse, a história julgou Duck Rock positivamente, Pitchfork incluiu Duck Rock em sua lista dos 200 melhores álbuns da década de 1980, o álbum provou ser altamente influente em levar o hip hop a um público mais amplo no Reino Unido, com dois dos seus singles, 'Buffalo Gals' e 'Double Dutch', tornando-se grandes sucessos nas paradas em ambos os lados do Atlântico.
Drinho, na sua opção pelo fora do comum, como exposto desde seu primeiro lançamento, se assume como quem não se conforma em produzir música nos padrões do que todo mundo já faz. Inventa canções esdruxulas em arranjos estapafúrdios que nos levam a indagar se estamos ouvindo simples kitsch ou avant-garde.
Neste novo lançamento, o artista troca o melão pela romã, ou a melancolia pelo romance. Contando histórias simples da convivência à dois, o cantor passeia por decepções, expectativas frustradas, sabores compartilhados, e declarações das mais clássicas, tecendo a identidade poética de um eu lírico que faz da sua própria despreocupação formal uma qualidade, uma característica diferencial.
Drinho talvez seja aquele tipo artista que você não ousa recomendar por não conseguir imaginar qual será a reação da outra pessoa ao escutá-lo, mas definitivamente é um artista que merece ser ouvido sem preconceitos.
Malcolm McLaren ou Sigue Sigue Sputinik? A história julgará.
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